sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

arde e depois passa.

A dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai aguentar, mas aguenta: as dores da vida. Pensa assim: agora está insuportável, eu sei que tu agora só querias fechar tudo, sair do corpo, encarnar numa samambaia, transformares-te num paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Já se foram dez segundos depois da frase passada. A tua dor já é dez segundos menor do que há duas linhas atrás. Tu achas que não, porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas depois tu desvias o olho, tomas uma bebida, lês uma revista, dás um pulo no mar e quando vais ver o barco já está lá longe. A tua dor agora, essa fogueira na tua barriga, essa sensação de que pegaram na tua traqueia e no teu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo – é difícil de acreditar, eu sei – vai ser só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias." 

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